terça-feira, 19 de abril de 2011

Reencontro

Era uma merda fodida cheia de sangue mesmo. Eu voltei lá com Selma e Diana na noite seguinte e eu não conseguia tirar Hismena da cabeça. Ela me olhava a cobiçava e procura em meus bolsos chaves e coisas imaginárias que eu sabia há muito esquecidas pela humanidade. Ela tinha os maiores olhos que eu já tinha visto num ser humano, rosto arredondado e cabelos muito loiros, loiros demais para serem de verdade. Ela dizia já ter trepado mais de mil vezes com o primeiro ministro italiano e me apalpava novamente e dizia: piu belo!
Eu estava tentando conter a excitação dentro das calças e tentava seguí-la pelos corredores, que teimavam em se afastar dos mus pés. Eu tentava focar, concentrar, mas é como se eu não conseguisse que meus pés se fincassem no chão, sempre teimando em se sobreelevar e me erguer até quase o teto.
Hismena era criada pelo avô materno, um velho bruto e selvagem que sabia bater com força. Um filho da puta, mesmo. Ela me implorava que eu me escondesse naquele canto mas meus pés teimavam em erguer-me e o chão estava sempre longe e mais longe.
Consegui enfim ficar numa altura mediana quando o velho veio entrando no quarto dela, que tinha as luzes apagadas. Estiquei-me como uma tábua equilibrando a barriga sobre o encosto de uma cadeira de madeira, deixando que meu corpo ficasse ali como pêndulo. O velho aproximou-se lentamente, doentemente, e no escuro deu-me uma pancada forte nas costas, que suportei firme, sem gemido ou murmúrio, enrijecendo a musculatura para que ele achasse ser algum objeto inanimado que não uma trouxa mole de carne humana.
Aos poucos a gravidade, ah, essa cruel e terrível alcoviteira, começou-me a puxar para baixo, forçando-me o equilíbrio e trazendo dores insuportáveis enquanto o velho quase cego ali se demorava.
A promessa de ter Hismena para mim ajudava a me dar força e eu sentia lentamente que o corpo se enrugava e murchava e morria, como um cão em seus últimos momentos antes da injeção fatal.
O velho por fim se retirou do quarto e Hismena veio ao meu encontro e beijou-me, e tirou minha roupa e cravou por fim, em mim, a adaga que me levou de vez o resto de vida que em mim havia.

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