terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma saga celulada

Depois de muita resistência resolvi, enfim, ponderar a possibilidade de usar uma dessas máquinas de grudar na cabeça e ficar falando sozinho na rua que chamam de celular. Não que eu esteja mudando, o aparelho é que foi incorporando outros utensílios: agenda, email, despertador, jogos, uai-fai, gps, massagem íntima e guia espiritual.
Mas sou um sujeito chato na hora de comprar algo, indeciso, preciso saber de todas as informações sobre todas as opções até começar a triar e descartar um por um e chegar na decisão final. Comprar meias, por exemplo, é um longo exercício de leitura de etiquetas, pois não compro meias com menos de 80% algodão, o que infelizmente são a maioria no mercado. É indizível a comparação de uma meia com alto teor de algodão com essas porcarias semi-sintéticas que nos empurram em lojas e supermercados e shopping centers, é como comparar um vinho chileno a essas groselhas com cachaça que nos servem nos restaurantes sob a alcunha de vinho da casa.
Então, felizmente para os vendedores, eu já dou uma boa pesquisada nas lojas online e saio de casa com uma idéia mais ou menos sedimentada do que eu quero, de modo que não preciso ver tudo. Um amigo sugeriu que eu fosse num centro de compras onde havia loja de todas as operadoras e, assim, eu poderia sair de lá já com o aparelho e o plano.
Consegui passar incólume pela maioria das lojas, constatando para minha decepção que a maioria dos aparelhos nesse tipo de loja é bem inferior ao que se acha em lojas na internet: são tecnologicamente atrasados por um preço 50% maior. Mas pior ainda do que isso é que os vendedores são, na verdade, vendedores dos pacotes das operadoras, que sabem responder o número de torpedos ou segundos de cabeça pra baixo que você pode falar no aparelho, mas não tem a mínima noção da velocidade de processamento, capacidade de memória, versão do sistema operacional, e outros pormenores não muito técnicos que até mesmo um leigo como eu é capaz de saber.
Tudo que eu queria era ler silenciosamente as especificações de cada aparelho, mas a pobre vendedora insistia em me trazer e montar diferentes modelos, que por algum motivo, decerto minha cara de falido, eram os mais vagabundos. Ela justificava a escolha dizendo que eram os mais vendidos, o que para muitos pode ser sinônimo de qualidade mas, para mim, uma certeza de ser porcaria. Posso não conhecer celulares, mas conheço suficientemente a humanidade para saber que os mais vendidos são sempre o pior negócio possível.

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