quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Eu monstro meu

Não sei como às vezes me entedio em meio ao orgasmo contínuo de notícias sensacionais nos dias correntes. Desde a invenção do transistor e baterias de papel ao último porre de Charlie Sheen, chega um ponto em que todos os jornais parecem vazios e as coisas desinteressantes e até mesmo nossa cara teia mundial parece já esgotada, com seu eu tivesse, de uma só tacada, lido todos os seus 5 mil Petabytes, ou meros 5 Exabytes (e crescendo).
A literatura é a única chance de salvação da enxurrada de informações. Fico me agarrando ao texto de autores mortos, tentando destrinchar, analisar, descobrir porque aquelas combinações tão efêmeras de palavras fazem um treco tão bom. Fico tentado a criar meu próprio monstro junto os melhores trechos de história de autores como Kafka, Dostoievski e Poe. Algo que eu jamais faria, é claro.
Isso porque, certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, vi-me transformado num gigantesco inseto. Era começo de julho, num tempo extremamente quente e caminhei devagar, rumo à ponte, precisando esgueirar-me pelos degraus da pensão para evitar encontrar com a dona da casa. Porém, quando ela ousou insultar-me, jurei vingança. Não deveria apenas vingar-me, mas vingar-me impunemente.
Esse pensamento, no entanto, logo se dissipou flutuando entre divagações e fastios de uma mente entediada flanando por aí. Pensei nas grandezas estelares e lembrei que o conceito já não era mais usado há alguns séculos, pois o brilho que vemos de uma estrela aqui na terra não é indicativo do seu tamanho, uma vez que temos que levar a distância em conta. Sem falar nos buracos negros, nos centro das galáxias, invisíveis, porém com uma massa gigantesca. E nenhum buraco negro terá um dia grandeza maior que aquele de Bobbi Starr.
Acalentei-me então com estes pensamentos enquanto os últimos fios de luz solar se extinguiam na superfície da cidade e as sombras alongadas davam vazão ao alongamento passional de uma melodia mental. Não! Era algo que eu certamente jamais faria, uma palavra sequer, muito menos uma frase ou sentença de qualquer mestre literário, jamais eu ousaria usá-las e me apropriar delas, como um ladrão barato que toma dos outros a roupa no varal e as sai usando. Essa determinação me deixava no problema de faltas de palavras a usar, ainda assim minha decisão era irrevogável.
E foi por isso que me levaram à pedreira e me esfaquearam, como um cão, eu disse, e minha sombra, daquela sombra, se soltará nunca mais.

2 comentários:

  1. hehe, é impressionante como no cinema fazem isso o tempo todo. Eles chegam a usar quadros famosos pra determinar a filmagem de cenas, de forma que os atores fiquem nas mesmas posições que as pessoas nos quadros :)
    Já na música se tiver uma frase melódica igual, dá processo. Não sei direito o que define a frase melódica, mas acho que é algo como uma sequencia de 7 notas iguais.

    Como diria a mad, monstro seu que eu monstro meu ;)

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