sábado, 25 de junho de 2011

A questão

Suponha que você receba 500 pila por mês e precisa gastar um real a mais para seu filho ir à escola. O que você faz? Gasta o um real por mês ou deixa seu filho meses sem aula?
A pergunta pode parecer absurda, eu sei, porque qualquer um que não se dispusesse a gastar um real a mais de um salário de 500 e deixasse seu filho sem escola logo seria preso por negligência. Mas, vejam só, é exatamente isso o que o governo vem fazendo e assistimos calados. O orçamento catarinense do ano passado foi de 13 bilhões e toda a questão da greve é em torno de uma bagatela de 24 milhões, ou seja, meio milésimo do orçamento do estado.
Bem, meio milésimo não é realmente muita coisa, o que nos permite afastar de vez a questão econômica do centro da briga que o governo trava há décadas contra professores. De fato, o governo poderia até dobrar os salários dos professores que mal faria cócegas no orçamento. Do total do orçamento, 2,5 bilhões vão para a educação, mas só 600 milhões viram salário mesmo, outros 400 milhões vão para os inativos e os restantes 1,5 bilhões simplesmente somem.
Somem sem explicação.
Somem em compras e obras de licitações obscuras, cujos vencedores nunca são amplamente divulgados, prováveis doadores de verba na campanha eleitoral. Não deve ser novidade para ninguém que o orçamento da educação é uma verdadeira máquina de fazer dinheiro para os partidos. Conheço gente que foi diretor de escola no tempo em que o cargo era eleito e o que acontecia era que o diretor pedia uma obra de 50 mil e vinha uma ordem de serviço de 500 mil. Aí o diretor cancelava, porque sabia que a coisa estava superfaturada e vinha a chantagem do governo, ou você aceita, ou a escola fica sem a obra. Então o governo acabou com a eleição para diretores porque isso inviabilizava o caixa dois dos partidos, agora cada escola tem um membro de partido na direção, para garantir o sigilo nas contas.
Outra experiência marcante foi um colega que trabalhava numa firma prestadora de serviço para a secretaria de educação e que em todos os orçamentos para o governo era preciso multiplicar por seis o resultado final, para pagar as comissões de propina em vários escalões. Ou seja, uma colocação se privada que deveria custar 350 pila, saía por 2000, e assim vai. Devo confessar que tive a honra de pessoalmente conhecer o vaso sanitário que custou dois mil em uma escola.
Nem peço que não roubem, seria demais, eu sei, apenas que diminuam em 10% o roubo. Já faria sobrar muito dinheiro, duplicaria talvez o orçamento da educação.

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