quarta-feira, 22 de junho de 2011

Em eclipse

Essa semana o sujeito ia subir na sua moto estacionada na Trindade e encostou um fulano, meteu uma arma no ouvido, mandou passar as chaves e sair fora. Levou a moto assim, na grosseria, sem nenhuma explicação ou motivo, esses vêm somente depois dados por criminologistas ou sociólogos.
O caso lembra o de uma mulher assassinada na mesma região e no mesmo horário há cerca de dois anos quando seu carro era roubado. É o mesmo sujeito que rouba? É outro que vem depois e age igual? Não faz diferença, a reprodução do crime já alcançou escala industrial, uns sucedem os outros como clones numa fábrica.
A polícia? Ah, sim essa está muito ocupada fechando bares de madrugada e não tem efetivo para patrulhar as ruas, pois segundo eles a culpa dos crimes é dos bares, não tem nenhuma relação com sujeitos perambulando por aí com arma em punho pela cidade em plena luz do dia.
Ano passado, a três quadras dali, foi a vez de um senhor que foi sequestrado por três caras enquanto saía de casa. A região tá virando uma maravilha, como se vê.
A coisa tá tão ruim por aqui que nem o eclipse vingou. O dia, que tinha sido bonito, foi ficando cinza e fechando o céu, nublando mais principalmente no horizonte, justamente com o firme propósito de tapar o evento e impedir sua observação. Caía um vento gelado e eu subi um dos morros da cidade só para tentar, com alguma sorte, ver alguma parte da coisa, em vão.
À princípio estranhei só ter eu lá no ponto de observação, mas depois entendi que o resto das pessoas era esperto o suficiente para perceber que com aquele tempo seria impossível qualquer esperança. Eu estava lá, mas não por esperança, apenas teimosia mesmo, como se minha teimosia pudesse arrumar o clima ou o comportamento da humanidade e permitir que o fenômeno lançasse seus raios vermelhos tênues sobre a cidade.
É isso então que me resta, a solidão da colina, o último a acreditar na possibilidade de o tempo virar. O último a ter alguma esperança, logo eu que sempre fui o mais pessimista. Não é o eclipse, é a humanidade, ninguém acredita que melhore. Antigamente se inventava boas desculpas para ir à guerra, hoje em dia nem mais isso se dão ao trabalho, apenas dizem claramente, estamos em guerra contra país tal e continuaremos bombardeando até matar fulano.
Já não interessa mais a ninguém. Podemos deixá-los matando e roubando outros países enquanto nos ocupamos de nossa vida e daqueles que estão nos matando e roubando aqui nas ruas cotidianamente.

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