Era uma
longa noite pela frente. Meteu às pressas a calcinha verde de Teobromina, na
esperança de um aumento nos níveis de serotonina, melatonina e, por
conseqüência, no apetite sexual. Não queria voltar mais uma vez sozinha para
casa. Botou o sutiã de Levedopa, que
não só lhe elevaria os movimentos cardíacos para a dança, mas, de quebra,
poderia causar alguma euforia ou agitação.
Como ia
beber muito naquela noite, decidiu-se pela blusinha decotada de haloperidol,
que evitaria náuseas e enjôos e, de quebra, aumentaria a troca de dopaminas no
cérebro minimizando o possível efeito psicótico das outras roupas. Ela sabia
que tinha que tomar cuidado com essa blusa, da outra vez suou tanto que a blusa
a deixou com tremedeiras nas pernas e algumas contrações musculares
involuntárias.
Para a meia
calça, ela quis algo especial. Aquela meia fininha, toda preta, de codeína, que
ela guardava para ocasiões especiais, quando queria dançar e exibir seu corpo
sem sentir aquelas terríveis dores na perna. Não sentiria nada, de fato, e se
conseguisse agarrar um jovenzinho incauto podia até deixar ele dar uns tapas,
unhadas e beliscões que estaria blindada. Às vezes se arrependia quando usava
essa meia por causa da prisão de ventre nos dias seguintes, mas nada que um bom
laxante não resolvesse. O que importava agora era essa noite.
Os sapatos
também seriam especiais, aquelas botinhas de Metilfenidato, de bico fino e
saltinho alto, pretas para combinarem com a meia. Eram seus calçados preferidos
por causo do efeito psicoestimulante que derivava do reaproveitamento da
dopamina e seratonina, o que formava uma combinação de arrasar com o efeito das
outras roupas. É claro que a lista de efeitos colateral das botinhas também era
de arrasar, embora nem todas ela achasse ruins, como a perda de apetite, de
sono ou de peso. Tinha ainda daquelas coisas que ela não conseguia entender nem
com a ajuda do dicionário como a acatisia ou discinesia, então era melhor nem
pensar nisso. Preocupava-lhe sim era a alopécia, a perda de cabelos, mas também
não era nada que um implantezinho não resolvesse depois.
Por
fim uma saia de atropina, branquinha, combinando com a blusa, que lhe ajudaria
a ressecar a pele, evitando aquele suadouro de rã no cio depois de dançar e uma
novidade: uma echarpe de Piracetam, que uma amiga lhe recomendara para tentar
manter os pensamentos em ordem depois do efeito das outras roupas. Agora sim,
estava pronta para a noite.