quinta-feira, 11 de julho de 2013

Vênus emboletada





            Era uma longa noite pela frente. Meteu às pressas a calcinha verde de Teobromina, na esperança de um aumento nos níveis de serotonina, melatonina e, por conseqüência, no apetite sexual. Não queria voltar mais uma vez sozinha para casa.    Botou o sutiã de Levedopa, que não só lhe elevaria os movimentos cardíacos para a dança, mas, de quebra, poderia causar alguma euforia ou agitação.
            Como ia beber muito naquela noite, decidiu-se pela blusinha decotada de haloperidol, que evitaria náuseas e enjôos e, de quebra, aumentaria a troca de dopaminas no cérebro minimizando o possível efeito psicótico das outras roupas. Ela sabia que tinha que tomar cuidado com essa blusa, da outra vez suou tanto que a blusa a deixou com tremedeiras nas pernas e algumas contrações musculares involuntárias.
            Para a meia calça, ela quis algo especial. Aquela meia fininha, toda preta, de codeína, que ela guardava para ocasiões especiais, quando queria dançar e exibir seu corpo sem sentir aquelas terríveis dores na perna. Não sentiria nada, de fato, e se conseguisse agarrar um jovenzinho incauto podia até deixar ele dar uns tapas, unhadas e beliscões que estaria blindada. Às vezes se arrependia quando usava essa meia por causa da prisão de ventre nos dias seguintes, mas nada que um bom laxante não resolvesse. O que importava agora era essa noite.
            Os sapatos também seriam especiais, aquelas botinhas de Metilfenidato, de bico fino e saltinho alto, pretas para combinarem com a meia. Eram seus calçados preferidos por causo do efeito psicoestimulante que derivava do reaproveitamento da dopamina e seratonina, o que formava uma combinação de arrasar com o efeito das outras roupas. É claro que a lista de efeitos colateral das botinhas também era de arrasar, embora nem todas ela achasse ruins, como a perda de apetite, de sono ou de peso. Tinha ainda daquelas coisas que ela não conseguia entender nem com a ajuda do dicionário como a acatisia ou discinesia, então era melhor nem pensar nisso. Preocupava-lhe sim era a alopécia, a perda de cabelos, mas também não era nada que um implantezinho não resolvesse depois.
            Por fim uma saia de atropina, branquinha, combinando com a blusa, que lhe ajudaria a ressecar a pele, evitando aquele suadouro de rã no cio depois de dançar e uma novidade: uma echarpe de Piracetam, que uma amiga lhe recomendara para tentar manter os pensamentos em ordem depois do efeito das outras roupas. Agora sim, estava pronta para a noite.